Neste dia é muito importante que seja falado sobre a doença, para conscientizar a população sobre o impacto da demência no processo de envelhecimento dos idosos e na saúde dos familiares.
O diagnóstico precoce é essencial para que o paciente tenha mais possibilidades de manter sua autonomia e independências nas suas atividades diárias.
Segundo dados do IBGE 2021, a população do Brasil está mais velha. Entre 2012 e 2021, o número de pessoas abaixo de 30 anos no país caiu 5,4%, enquanto houve aumento em todos os grupos acima dessa faixa etária no período.
A população total do país foi estimada em 212,7 milhões em 2021, representando um aumento de 7,6% ante 2012. Nesse período, a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período.
No Brasil, cerca de 1,2 milhões de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano.
Alzheimer é um tipo de demência, estudos de prevalência no Brasil são muito escassos, mas estima-se que 40 a 60% de todas as demências são relacionadas ao Alzheimer.
A demência de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva, caracterizada por um prejuízo de memória para fatos recentes, além de comprometimento em outras funções cognitivas tais como linguagem, raciocínio, orientação, aprendizado e julgamento.
Geralmente acompanhados por sinais e sintomas psicológicos como descontrole emocional, alteração de comportamento social, apatia além de agitação, agressividade e alteração de personalidade.
Dividimos a classificação de demência de Alzheimer em fases. Geralmente cada fase está relacionada ao nível de autonomia do paciente e é importante esta classificação, pois a identificação da fase determina qual tipo de tratamento medicamentoso é mais adequado.
Fase 1 inicial – ocorrem os primeiros sinais de esquecimentos para fatos corriqueiros, fatos recentes, repetições constantes e não há comprometimento para atividades de vida diária, mas sim de atividades instrumentais tais como dificuldade para cozinhar e/ou planejamento de finanças e controle de uso de medicações com autonomia
Fase 2 moderada – além dos sinais de esquecimento, já ocorrem dificuldades de linguagem, de compreensão e para completar frases (pode ocorrer esquecimentos durante a fala), já apresentam desorientação para temporal (data, ano) e espacial (muitas vezes confundindo ambientes da casa) e muito comum não reconhecer familiares e a própria casa, além de maior dificuldade de coordenação para execução de tarefas rotineiras e uma maior dependência para atividades de vida diária (como tomar banho, trocar-se, escovar dentes de forma totalmente independente)
Fase 3 avançada - Associa-se maior resistência a execução de tarefas (principalmente banho e alimentação), ocorrendo frequentemente perda de coordenação motora progressiva e prejuízo de equilíbrio, podendo levar o paciente a prejuízo de marcha e quedas. As incontinências fecais e urinárias são comuns, necessitando de maior auxílio de familiares e cuidadores, incluindo uso de absorventes e fraldas geriátricas.
Fase 4 terminal - Muitas vezes o paciente já se encontra acamado, com prejuízo de alimentação (dificuldade para deglutir alimentos (sólidos e/ou líquidos) e a maioria das vezes é necessário modificação da consistência de alimentos e em alguns casos o uso de sonda de alimentação são necessários. Nessa fase são recorrentes as infecções – as mais comuns sendo urinária e pulmonar.
Não existe prevenção comprovada, porém estudos recentes mostram que ter um estilo de vida saudável com círculo de amizade, alimentação com alto teor de alimentos naturais, atividade física e controle de doenças crônicas, tais como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia (aumento de colesterol e triglicérides), além de evitar hábitos como ingestão rotineira de álcool, fumo e maus hábitos de sono (que gerem insônia ou sono de má qualidade) podem reduzir o risco ou adiar o início da doença.
Por fim, é muito importante lembrarmos sobre a consequência da doença sobre a rotina e saúde mental dos familiares. Principalmente daqueles que cuidam e lidam diariamente com os pacientes com Alzheimer, que denominamos de estresse do cuidador.
Além do estresse relacionado ao diagnóstico, alterações de comportamento, de personalidade, sintomas como teimosia, agressividade, negativas para funções básicas como alimentação e banho estão entre as maiores causas de conflitos e consequentemente estresse entre pacientes e familiares.
Para se ter um tratamento adequado é essencial que a família fique atenta a sinais e sintomas da forma inicial (descrita anteriormente) para ser possível o tratamento na forma mais precoce da doença, retardando muitas vezes a evolução para formas mais avançadas. A rede de suporte de cuidados familiar ou formal é igualmente importante, contribuindo muitas vezes para o controle de alterações de comportamento e redução de conflitos, evitando-se a concentração de cuidados em uma só pessoal da família.
É essencial que a família se estruture para divisão dos cuidados e caso seja necessário, recorrer a cuidadores formais ou institucionalização para que este suporte seja adequado, para que o paciente e a família possam ter uma melhor qualidade de vida.
Após o diagnóstico de demência de Alzheimer inicia-se uma batalha da família toda para se manter o indivíduo o mais independente possível, controlar as alterações de comportamento, reduzir o sofrimento da alma. Não é uma tarefa fácil, mas com um trabalho em equipe – equipe de saúde e família - é plenamente possível.
- Patricia Calil Bernardes, CRM 97777, Médica Geriatra
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